quarta-feira, 18 de março de 2009

Violência domestica


Equipe:
Suellen Cristina
Silvia Gouveia
Diego Araujo
Jucicleia Santos
Hamilton Sacramento










ENTREVISTA

Entrevistada: Fátima Cardoso de Jesus
Idade: 32 anos
Escolaridade: Ensino fundamental incompleto
Filhos: 2 (ambos do sexo masculino)
Bairro: Cajazeiras

Entrevistador: Boa tarde! Estamos aqui com a Sra. Fátima Cardoso de Jesus
E ela resolveu contar um pouco da sua história sobre a violência que sofreu. Vamos iniciar a entrevista com a primeira pergunta, queremos saber como começou essa violência doméstica?
Fátima: Sempre me falaram que no começo tudo é um mar de rosas. São flores pra lá, flores pra cá. Aquele bom gesto no real... Tudo lindo...
Aí depois que a gente imagina isso tudo, tudo muda. Ele chega com aqueles palavrões, empurra e empurra desaforos... Já to com o olho roxo. Aí repete e repete e nunca pára. E é sem querer... sempre é sem querer. Diz que não sabe por que bateu!
Entrevistador: Compreendo Sra. Fátima! Dentro da violência domestica tem um conjunto de outras, como a violência verbal, desta a Sra. já sofreu alguma vez?
Fátima: O nome mais carinhoso que ele me chama é vagabunda, depois de vagabunda, vem puta, vem desgraça... Queridinha, esses apelidos mais carinhosos que se tem... Ele nunca me chamou de querida não desde o tempo que eu namoro era uma flor... Aí se eu não saísse com ele... Ele achava que eu tivesse dando corno nele... Aí depois ele me chamou de fia da peste... Tudo muda!
Entrevistador: Mas a Sra. sofreu alguma agressão? Algo a mais aconteceu no final?
Fátima: Mas naquele dia mesmo eu tomei um tapa. Fez som tão alto que ele disse... Foi sem querer.
Entrevistador: Então me diga quando foi que aconteceu o dia da primeira agressão?
Fátima: Você sabe que eu não me lembro? ...ahh isso já tem muito tempo! Na verdade na verdade, ele desde o começo mostrou q era um vírus, gostava de mandar!Você não vai sair você não veste essa roupa curta! E foi por estes que eu tive meu primeiro sacode neném...
Entrevistador: Compreendo, compreendo! A Sra. poderia nos contar se houve mais alguma agressão além destas?
Fátima: Ah! são tantas meu filho, que eu nem sei dizer a quantidade...
Porque todo santo dia quando ele chega... Ele arranja um motivo pra me bater. É tanto telefone no ouvido... Que eu já estou com o ouvido roxo de porrada... Quando não é num ouvido é em outro... To roxinha de tanta porrada que eu levo! Já raspou o meu cabelo, já cortou meus peitos...
Vixeee... Furou minha bunda de garfo... O homem é uma miséria toda...
Entrevistador: Eu compreendo Sra. Fátima... E a Sra. alguma vez já optou por denunciá-lo?
Fátima: Sim, sim, um dia a delegada vai lá dá um sossega nele mesmo... Depois solta, ele volta pra casa e faz pior... Quem merece ficar apanhando todo santo dia... Acarinhando a gente? Ele dizendo que um dia vai mudar
Mas eu sei que não vai mudar, porque a cachaça a maconha... E as putas da rua não deixam ser um homem fiel nem carinhoso...
Entrevistador: Eu entendo Sra. Fátima. Como que a Sra. e as outras mulheres... Sofrem caladas com tanta violência?
Fátima: É vergonha meu filho! A gente pensa que casa com um príncipe encantado e descobre que é um dragão! Todo dia e fogo na cara da gente, é porrada, nunca se cansa! É briga que eu nunca vi, sento a barriga no fogão... Para a comida não esfriar, fazendo comida para esse safado...
É só porrada, não me dá um gesto de carinho... Não... Ou ele me mata ou eu mato ele! Um dia Deus é que vai dizer...
Entrevistador: Sim... Eu entendo! E a Sra. ainda convive com o agressor, no caso o seu marido o Sr. Antônio?
Fátima: Não, não porque agora eu tomei as minhas atitudes de mulher!
Eu fui à delegacia, mostrei as minhas, minhas marquinhas, o olho roxo
Quase só fiquei com três caquinhos de um dente... Toda arranhada...
Emagreci mais, barriga queimada, meus peitos cortados, aí ele ta proibido de ir lá, mas ele ameaça me pegar e quando ele me pegar, vai me matar...
Entrevistador: A Sra. sabe do paradeiro do agressor?
Fátima: Não, ele fugiu tá fugido... Nem procura saber da família nem nada... Então ele nunca deu nada, eu que trabalhava dia e noite... Ele deve ta procurando outra figura para dar porrada por aí...
Entrevistador: Sim Sra.... No caso qual a mensagem que a Sra. poderia mandar para as mulheres que ainda sofrem desse mal, dessa violência?
Fátima: Eu acho assim, que no namoro se tiver mandando e dê empurrão sem querer... Não queira minha filha porque esse vai te bater quando casar vai te espancar e nunca... Você nunca mais vai ser a mesma mulher, porque quando casa você descobre que casou com um dragão... e denuncie vai na delegacia que lá dão um sossega neles, neles mesmo...
Entrevistador: Então a Sra. é a favor dessa nova lei, a lei da maria da penha... que ela é uma lei responsável para punir justamente estes agressores?
Fátima: É e nada de pagar acervo e nem... Nem ajuda-lo na sociedade não, tem que dar porrada e botar isso lá no xilindró... pra ele saber o que é bom, levar uns dez anos lá levando porrada dos colegas...
Entrevistador: Compreendo Sra. Fátima. Nós gostaríamos de agradecer a Sra. pela importante entrevista dada... Por sua grande experiência apresentada aqui. Pelo seu resumo de história de violência contra a mulher. Certo? e por isso muito mais um obrigado!

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Texto sobre a violência contra a mulher

A violência doméstica é a violência, explícita ou não, praticada em casa, normalmente entre parentes (como marido e mulher). Inclui varias práticas, como a violência (seja ela física ou psicológica) e o abuso sexual. A violência física — é aquela que a envolve agressão direta ou destruição de objetos e pertences do agredido; violência psicológica — aquela que envolve agressão verbal, ameaça, gestos e posturas agressivas; e violência socio-econômica, que envolve o controle da vida social da vítima ou de seus recursos econômicos, privando-lhe de usufruir de sua própria renda. Também existem alguns que consideram violência doméstica o abandono e a negligência quanto a crianças, parceiros ou aos idosos. Estatisticamente comprovado a violência contra a mulher é muito maior do que a contra o homem. Em geral os homens que batem nas mulheres o fazem entre quatro paredes, para que não sejam vistos por parentes, amigos, familiares e colegas do trabalho. A maioria dos casos de violência doméstica são classes financeiras mais baixas, a classe média e a alta também tem casos, mas as mulheres denunciam menos por vergonha e medo de se exporem e a sua família e também por serem ainda mais agredidas por seus parceiros. Também existem as expressões violência no relacionamento, violência conjugal e violência intra-familiar.
Infelizmente, esta é uma realidade bem presente na nossa sociedade. Apesar de cada vez mais existirem mais queixas, a verdade é que ainda muitas vítimas se sentem humilhadas, e não consegue lidar com a situação da melhor maneira, o necessário para quem sofreu a agressão é passar por analises e tratamento psicológico de recuperação. Por tais razões, não é possível referir os nomes das vítimas, para se continuar a manter o anonimato, que é absolutamente importante para estas pessoas.
É um problema de toda a sociedade. Os Direitos Humanos proíbem toda a forma de discriminação com base no sexo, garante o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, reconhece a igualdade perante a lei e igual proteção contra toda a discriminação que infrinja a Declaração. A ausência de proteção contra a discriminação nas relações entre particulares pode ser de tal modo nítido e grave que implique claramente a responsabilidade do Estado.
A lei Maria da Penha é vista como mal formulada por muitos profissionais da área jurídica, pois rebate com outras leis em vigor. O mais interessante é que esta pode ser usada no caso de agressões feitas por uma mulher à outra, mas sendo NAMORADAS, apenas neste caso, pois o objetivo da Lei Maria da Penha é a proteção da mulher em situação de fragilidade diante do homem ou de uma mulher em decorrência de qualquer relação íntima, com ou sem coabitação, em que possam ocorrer atos de violência contra esta mulher. No entanto, a troca de ofensas entre duas irmãs, por exemplo, sem a comprovada condição de inferioridade física, mental ou econômica de uma em relação à outra, não se encaixa no contexto da lei, pois, se assim fosse, qualquer briga entre parentes obrigaria a lei a amparar.

Um comentário:

  1. Achei o texto reflexivo muito elucidativo porque a questão da violência decorre de uma das partes estar em condições desfavoráveis (seja de natureza física, psicológica, econômica, cargo, etc.), portanto implica em relações de PODER. Alguém, em uma posição de poder, exerce contra o outro para controlá-lo, subjugando-o, desqualificando-o e humilhando-o na sua condição humana. Muito bom o texto, sobretudo o finalzinho.

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